São tantos adjetivos a serem usados que fica difícil descrever em poucas palavras o que foi o dia de ontem. 27 de novembro de 2019, o dia em que o Emicida se apresentou por duas vezes no Teatro Municipal de São Paulo. Um homem negro, de periferia, que vem trilhando sua carreira há anos no rap nacional e que teve todos os ingressos vendidos para ambas as apresentações em apenas 10 minutos. Ocupar um espaço como esse é, no mínimo, simbólico. E notar o quanto o Teatro Municipal abraçou essa ideia e entendeu o que significa ter dois shows do calibre dos concertos que o Emicida oferece em sua estrutura histórica e inspiradora é gratificante. 

Emicida canta “A Chapa É Quente” no palco do Theatro Municipal. (Foto: Jeferson Delgado)

Quem vivenciou esse momento sabe o misto de emoções despertadas ao longo do show. Desde a montagem do palco, as projeções, a escolha da iluminação até a escolha do repertório e de cada palavra que ele expressou durante o show em seus pequenos, porém potentes, discursos foi impecável. Este é o início da turnê AmarElo do Emicida. E quem puder conferir de perto um momento como esse, será agraciado.

A primeira apresentação aconteceu às 16h e a segunda às 21h. Para a última apresentação da noite, o Emicida, junto com toda produção da Laboratório Fantasma, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura e Instituto Odeon, com apoio da Deezer que disponibilizou um telão do lado de fora do teatro para uma transmissão ao vivo do show. Abrindo os trabalhos, a primeira música escolhida foi “A Ordem Natural das Coisas”, com a MC Tha. De forma singela, ele tocou quem estava presente logo de cara. Essa foi a primeira de uma sucessão de músicas escolhidas para representar não só o experimento social AmarElo, mas toda a carreira que Emicida vem trilhando. Além do músico no palco, junto com sua banda, tivemos a presença ilustre de Pabllo Vittar, Majur, Drik Barbosa e Jé Santiago.

No camarim, Emicida se encontra com representantes do Movimento Negro Unificado. Da esquerda para a direita: Emicida, Wilson Simoninha e representantes do MNU. (Foto: Jeferson Delgado)

Um dos momentos mais marcantes aconteceu quando Emicida prestou uma pequena homenagem aos ativistas do Movimento Negro Unificado que estavam presentes. É simbólico presenciar um show do Emicida, em um local como o Teatro Municipal, onde há 40 anos seus representantes fizeram uma manifestação nas escadarias do teatro durante a ditadura militar contra a violência racial. A platéia aplaudiu de pé!

Emicida literalmente encheu o Municipal de gente preta e botou todo mundo pra pular, curtir e se emocionar. Um dia histórico que rendeu o prêmio de Melhor Show do Ano pela Associação Paulista de Críticos da Arte (APCA). Seja bem vinda, turnê AmarElo. Obrigada por existir!

Texto por: Carla Silva