Definitivamente não podíamos deixar de nos pronunciar no Mês da Consciência Negra. E quem melhor para dizer algumas palavras sobre o assunto que nossa contadora de histórias consagrada? 20 de novembro foi escolhido como o Dia da Consciência Negra por coincidir com a data da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. Mas é do seu próprio jeito que Dona Jacira escolheu falar sobre isso. Na 5ª edição de sua coluna para o Meteora Podcast, nossa griot não faz apenas uma reflexão sobre a importância do povo e da cultura africana. É tomando um café preto passado no saco que ela conta sua experiência em um curso sobre a diáspora africana. Ao compartilhar histórias com outros alunos, ela se deu conta de que muitas coisas que passou ao longo da vida faziam parte do racismo que vivenciou, e a identificação foi imediata.
Falando sobre representatividade, Jacira explica a importância desta data ser feriado. Em meio a tantas datas cristãs em nosso calendário, o Dia da Consciência Negra tem como objetivo dar luz à um povo que segue sendo marginalizado e negligenciado pela sociedade. Em algumas cidades, a data não é feriado ou é apenas ponto facultativo. Voltando ao curso, que teve muita importância na vida da poetisa, as aulas a fizeram resgatar seu sonho de ser escritora. Foi de um projeto de TCC que nasceu os primeiros rascunhos de seu livro, “Café”, lançado no Dia da Consciência Negra de 2018.
Em uma pequena entrevista cedida à nós, Dona Jacira diz que a reflexão feita para esta data no podcast é um exercício feito por ela todos os dias. “Eu estou sempre passando por esse processo e o meu livro faz parte disso. Eu compartilhei a minha experiência para deslumbrar as pessoas que desacreditam dessa data. Se não fosse através do podcast, seria escrevendo para algum lugar, ou falando sobre o assunto na rua, no ônibus ou em qualquer outro local. Mas fico feliz de ter sido através do Meteora, um espaço de acolhimento cedido pela Cris Guterres e a Renata Hilário. O feedback tem sido positivo, fiquei sabendo de várias pessoas que ouvem minha coluna, como já recebi também sobre meu livro. É uma honra pra mim!”. Tudo começou com um convite do Meteora para Dona Jacira participar da coluna “Especial Stalker”, voltada para conhecer personalidades de diversos meios. “Quando as meninas vieram na minha casa gravar o primeiro podcast, eu disse pra elas que tinha muita vontade de gravar, pois sempre tive fascínio por novela de rádio. Em seguida veio o convite delas para ser colunista! Ainda estou experimentando, é tudo novo. Ter um espaço onde eu possa falar, me sentindo à vontade. Gosto de falar daquilo que estou apta e do que me emociona.”
Renata Hilário, do Meteora Podcast, também compartilhou um pouco com a gente sobre esta experiência. O Meteora existe há pouco mais de um ano, fruto do desejo de uma jornalista e uma publicitária que queriam se sentir mais representadas no meio do podcast, sendo produzido por mulheres negras e valorizando o protagonismo negro. Tratando de assuntos diversos e falando para todos os públicos, tudo começou pelo amor à comunicação. “Somos uma produtora de conteúdo e temos feito outros trabalhos além do podcast pelo Meteora, como cursos, oficinas, workshops e a validação de marcas para campanhas. Os planos são muitos para 2020!”. A vontade era de transformar o podcast em uma rádio e daí veio a ideia de construir junto à colunistas um pouco de seus conteúdos. “Nós queríamos muito entrevistar a Dona Jacira, por tudo o que ela representa em termos de ancestralidade e conhecimento. Ter a perspectiva diferente de uma outra geração é poder dar voz a uma outra visão no Meteora. Ela primeiramente nos recebeu em sua casa e foi um programa bem bacana de ser gravado. Foi daí que tudo começou! Fomos ficando mais próximas e o convite para ser colunista surgiu.”
A coluna não é pautada e tudo vem das inspirações de Dona Jacira. Ela tem uma coluna quinzenal, às quartas-feiras. De forma muito simbólica, as coincidências da vida se fazem: dia 20 de novembro seria o dia de lançar mais uma edição da coluna de Dona Jacira. “Tudo o que ela diz é muito inspirador! Em caráter de exceção, pedimos a ela que falasse um pouco sobre a data da maneira que se sentisse à vontade e em alguns dias ela nos retornou com este produto lindo que foi a quinta edição de sua coluna. Tem muitas perspectivas que são compartilhadas neste dia, que é conquistado como um direito para a população negra. Quisemos trazer através dela uma contribuição para o dia 20 de novembro. Ficamos felizes em tê-la conosco não só quinzenalmente através do podcast, mas como uma aliada para transmitir um pouco dos nossos ideais.”
O Meteora Podcast está disponível em todos os agregadores, como Spotify e iTunes.
Texto por: Carla Silva