Marco e Caio Brandão (foto: Raphael PS)
Marco e Caio Brandão (foto: Raphael PS)

O Dia dos Pais enfim já tá aí, neste domingão, e com o Marco e o Caio, pai e filho, a gente encerra hoje a nossa série de histórias reais e inspiradoras da campanha “Meu Pai Fecha Comigo”.

Nos últimos dias você conheceu aqui a Juliana e o seu Juraci e o Laerte e a dona Vera. Em comum com as anteriores, a história de hoje também é marcada por um momento em que uma reviravolta na vida sacode e bagunça a rotina, mas o final feliz é garantido quando a família se junta pra superar os obstáculos.

Nenhuma palavra, aliás, descreve melhor a relação entre o Caio e o Marco do que união. Antes de conferir aqui embaixo essa história emocionante, cola aqui na nossa loja e já garante o presente pra fazer bonito com o seu coroa!

“Meu pai é o cara que mais fecha comigo e acho que eu sou o cara que mais fecha com ele”

O Caio Brandão de dez anos atrás, morador de um apartamento na zona sul de São Paulo, com uma família que levava uma rotina comum a qualquer outra de classe média, certamente nunca poderia imaginar que o de hoje, aos 22, já teria passado por tudo que passou. Foram tempos difíceis, mas superados pela união com o irmão e o pai, Marco.

“Quando minha mãe tava presente, a gente sempre foi uma família muito unida. Morávamos eu, meu pai, meu irmão e minha mãe. A gente nunca foi uma família rica, a gente tinha condição de classe média normal. Eles tinham uma pequena fábrica de fitas decorativas, e eu lembro que começaram a ter dificuldades financeiras por má administração, até que a fábrica faliu. E essa época foi muito conturbada porque de uma hora pra outra minha mãe saiu fora, ela meio que abandonou a gente”, relembra Caio.

Somou-se a isso uma época de grandes dificuldades financeiras, com Marco desempregado. “Eu não sabia nem fritar um ovo pra falar a verdade. Eu tive que me virar com os dois. A dificuldade em casa foi gravíssima, nós chegamos a comer arroz com pipoca porque não tinha um ovo pra fazer. Morando num lugar sem gás e sem luz com duas crianças pequenas. Eu peguei uma latinha de sardinha, coloquei um pouco de álcool, pus em cima da pia, peguei a grelha do fogão, coloquei em cima e ali que eu cozinhava. Foi o auge da nossa dificuldade, mas eu consegui segurar os meninos perto de mim”, conta o pai.

Sem dinheiro para pagar o apartamento, foram despejados e passaram a morar com familiares. Com o objetivo de conseguir dinheiro para voltar a terem a própria casa, todos foram trabalhar. “Desde o começo meu pai sempre falou que a gente era os três mosqueteiros, cada um no seu corre pra levantar uma grana pra dividir as paradas em casa”, diz Caio, que nessa época trabalhava como animador de festa infantil. “Meu pai arrumou um trampo de segurança que ele virava a madrugada pra tirar 50, 40 conto por noite. E meu irmão também, às vezes ia com ele.”

Com o tempo, conseguiram se mudar, juntos, para uma casa na favela do Vietnã, também na zona sul de SP. E ali a vida voltou a progredir, apesar das preocupações do pai. “Era uma idade de pré-adolescência, em que a molecada fica muito vulnerável. Eu precisava trabalhar e não tinha como acompanhar todos os passos, mas na medida do possível eu monitorava no bom sentido pra saber se tava tudo certinho, se foi pra escola, se voltou, se correu tudo bem. E a gente morava do lado da biqueira. Eu tentei fazê-los entender que o caminho era outro, era a gente procurar ser educado, procurar estudar, procurar trabalhar, procurar batalhar pra ser um cidadão de bem. E graças a Deus eu acho que nós passamos esse risco, esse momento crítico”, diz Marco.

Caio lembra que com o estágio de vendedor na 25 de Março, conseguia ajudar a pagar as contas em casa, mas não sobrava nada. Logo “Meu pai já conseguiu um trampo de motorista, que era um pouquinho melhor. Lembro que eu ganhava 180 reais e dava 110 na conta de luz, todo mês. Sobrava 70 conto pra pagar a condução pra estudar. Eu trampava a semana toda e não tinha uma grana pra fazer um rolê no final de semana. Mas pelo menos a gente tinha um lugar pra dormir, tinha uma comida, tinha luz, gás, a gente não passou essa dificuldade.” E Marco, sempre que podia, ajudava. “Meu pai quando ele tinha um dinheiro, era ‘pocas ideia’, ele fazia um corre lá e gastava tudo pra gente, só pra tirar um sorriso nosso. Ele chegava junto com a gente pra ir nas baladinhas que apareciam. A gente passou dificuldade financeira, mas a falta de amor paterno a gente nunca teve”, relembra o filho, orgulhoso. “Meu pai fazia uns trampos de corretor antes de trampar como segurança, tentando vender casa, não vendia. Ele almoçava duas paçoquinhas, que era 25 centavos cada uma, e sempre teve na luta, não desistia nem por um segundo, pra dar uma condição de vida pra gente e pra melhorar a vida dele também. A gente sempre teve a nossa vida como uma. Melhorar a minha é melhorar a do meu pai”, diz.

Marco conta que os filhos sempre foram compreensivos com a situação, mesmo no auge das dificuldades, como os momentos em que não tinham o que comer. “Eu usava alguns artifícios pra brincar, pra distrair, mas tinha hora que apertava, a barriga doía e tive que dizer ‘olha, vocês têm que entender que eu tô com dificuldade, tô procurando batalhar e vocês vão ter que ter um pouco de paciência porque eu vou correr atrás, vou fazer um esforço aí pra chegar com vocês’. E eles sempre entenderam que era uma coisa realmente passageira e que a gente ia superar, como graças a Deus superamos, e estamos aí. Todo dia a gente tem um desafio e eles superam muito bem esse desafio.”

Depois de algum tempo morando na favela, com todos estudando e conseguindo empregos melhores, conseguiram voltar ao apartamento em que viviam quando foram despejados. Hoje, pai e filho enxergam que os momentos difíceis serviram para aproximá-los, e o diálogo aberto se mantém até hoje. “É um respeito que não é baseado naquela coisa do medo, é um respeito que eu vejo como o de melhor amigo mesmo, que eu posso falar qualquer coisa que eu faço. Meu pai é o cara que mais fecha comigo e acho que eu sou o cara que mais fecha com ele”, diz Caio. “Ele é um cara que nunca me decepcionou. Mais do que meu filho, ele é meu amigo. Um dos poucos amigos que eu tenho. Eu fecho com meu filho primeiro porque ele é um cara super do bem, ele é um moleque educado, obediente, que corre pelo certo. Ele tem boas ideias, ele tem um coração fantástico e ele assimilou com muita facilidade o aprendizado que eu tentei passar”, devolve Marco.

A admiração é tanta que Caio fez questão de registrar na pele. Mesmo sabendo que o pai não gostava de tatuagens, de surpresa, fez uma em sua homenagem. “É uma coroa, escrito rex pater mi, que em latim significa ‘meu pai, meu rei’. E não é que conseguiu mudar sua opinião? “Ele ficou feliz pra caramba, Aí inclusive depois dessa até levei meu pai pra tatuar. Hoje ele tem tatuagem no braço também.”