Fruto da conexão Brasil-Portugal de Emicida e Rael com Capicua e Valete, o nosso mais novo trabalho, “Língua Franca”, ganhou as ruas recentemente (aqui no fim do texto você escuta ele inteirinho).

Sobre o processo de composição das músicas você possivelmente já ouviu os artistas falando por aí, mas, assim como as rimas, a capa e o encarte também são fruto de um processo bem elaborado e que tomou horas de trabalho do André Maciel, artista plástico, ilustrador e designer do Black Madre Atelier, que assina essa arte.

André Maciel em ação (créd. Arquivo Pessoal)
André Maciel em ação (créd. Arquivo Pessoal)

O Maciel já trabalhou em outras capas e projetos da Lab. E a gente trocou uma ideia pra saber um pouco mais de como se dá esse encontro da arte dele com a nossa música:

– A capa do “Língua Franca” não é a primeira de disco que você faz com a gente. É preciso pensar a ilustração de um jeito diferente do que você trabalha normalmente quando ela está atrelada a um disco ou a músicas? Você tem que ficar ouvindo o disco partir da sua percepção nas músicas? Como se dá este processo?

De fato não é a primeira capa que faço para a Laboratório Fantasma e também colaborei em diversos projetos como Beat Machine do Emicida, estampas para SPFW e alguns pôsteres de clipes do Emicida e Fióti. Eu tive a oportunidade de fazer a capa do último álbum do Emicida, “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa”, juntamente com meu parceiro Adriel Nunes, que cuidou do design gráfico de todo o projeto. Para essa ilustração do “SCQPLC” tivemos um encontro com o Emicida em que ele mostrou música por música _que na época ainda nem estavam finalizadas_ e foi nos contando a história por trás de cada letra. Isso me inspirou a criar a ilustração, enriquecendo-a com o que tinha ouvido aquele dia. Por exemplo, se você reparar na capa desse disco, vai perceber uma caravela portuguesa, que de seu porão está saindo água, ou melhor, lágrimas. Essa é uma ilustração de uma passagem que o Emicida nos contou, sobre o oceano ser salgado por causa de todas as lágrimas de escravos despejadas dos porões das caravelas. Essa ilustração está cheia de significados assim. Ouvir o CD ajuda muito. Por exemplo, no “Gente Bonita”, do Fióti, eu colaborei com o pôster, e para fazer a ilustração vi o clipe no “repeat” várias vezes. Sentir a música ajuda a desenvolver o clima da ilustração.

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– No “Língua Franca” te foi solicitado que a capa fossem ilustrações dos 4 artistas ou você sugeriu por alguma razão? Como você chegou a essa ideia?

Nesse projeto, eu tinha apresentado ao Fióti, produtor do álbum, uma proposta que mostrasse uma releitura moderna dos azulejos portugueses, que não caísse no clichê, e que misturasse um pouco de brasilidade, e deu nisso. Os retratos pintados a mão na cor azul representam as pinturas de azulejos portugueses. E o letreiro aplicado de diferentes formas, de um jeito quebrado que no final cria uma harmonia, representa o Brasil. Um fator decisivo para esse design foi o título do álbum, “Língua Franca”. Isso possibilitou brincar com as letras. Cada uma tem um comportamento independente, mas criaM um significado quando estão em conjunto. No encarte do CD, quando você o tira da embalagem, há no fundo uma rosa dos ventos com a sigla do nome de cada artista: E (Emicida), R (Rael), C (Capicua) e V (Valete).

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– Fala um pouco por favor sobre a técnica que você usou pra fazer essa capa. Foi tudo feito à mão? Você tem por hábito trabalhar dessa forma?

Foi tudo pintado a mão, há esse processo no meu site em passo a passo para quem interessar. Primeiro recebi as fotos do ensaio que a Vera Marmelo tinha feito para o álbum, depois fiz uma seleção das melhores fotos para desenhar e comecei, fui melhorando o desenho e logo parti para a pintura, até chegar nesse resultado. Depois das pinturas finalizadas, tirei várias fotos para digitalizá-las sem perder os detalhes, juntei tudo isso no computador e comecei a fazer o design.

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– Você trabalha sozinho?

Depende do trabalho, mas para esse projeto chamei um amigo, o Fábio Cristo, que colaborou no desenvolvimento do design gráfico do álbum. Acredito que o projeto cresceu muito tendo uma outra mente criativa colaborando nesse desenvolvimento.  Tenho também um assistente chamado Rafael Duque, que me ajuda no processo estrutural dos materiais.

Ouça o disco aqui: