Por Fióti

Quando eu pensei em gravar este EP, eu não imaginei que viveria tão rapidamente coisas tão lindas na minha carreira artística. Tudo já começou com aquele time de ídolos (Curumin, Anelis Assumpção, Juçara Marçal, Mauricio Fleury, Zé Nigro…) que toparam entrar comigo em estúdio, até ali eu nem pensava em shows, até que começaram as perguntas:

“Isso aí tá ficando bonito. Quando vai ter show?”, comentou um dia o percussionista Badé. Anelis veio gravar em “Leve Flores” e ao meio da gravação fez a mesma pergunta, de forma diferente: “Iaí agora, como você vai fazer? Vai ter que ter show né?”. Maurício Fleury já foi mais direto: “Fala, meu canário, isso aqui tá ficando bonito, hein. Quero ver no palco como vai ser…”

Trabalho por etapas. Claro que eu queria fazer show um dia, mas realmente não havia pensado nisso ainda, naquele momento, pois estava me divertindo já com a ideia de fazer o EP. Coloquei na cabeça já dentro do estúdio que sairia em tour, mas queria ir devagar, tocando quando desse e como desse, desde que conseguisse levar a estrutura que acredito ser interessante para compartilhar a minha música com o público. Por não ter a necessidade de sobreviver da minha carreira artística hoje, eu posso me dar a esse luxo. Seria um bom caminho para eu me acostumar com o palco também e ir vivendo isso aos poucos.

Ao terminar o EP, comecei desenhar o show, queria dar um tempo para as pessoas curtirem o disco e colher o feedback do público. O EP foi lançado em maio e eu queria um tempo para preparar o show, então decidi que só começaria a me apresentar em setembro, outubro…

Até que um dia fui ao show do Baiana System e uma amiga querida do Sesc chamada Flavia falou: “Iai, Fióti, tá lindo o EP, hein. Vamos lançar aqui?”

Pensei comigo: “Será mesmo que ela tem certeza do que está dizendo?! (rs) Eu nunca fiz show e ela tá me convidando pra estrear na choperia do Sesc Pompeia”. Ela falava sério, e eu então, pra não perder a viagem, falei: “Ó, vontade eu tenho… Mas tô vendo que você tem coragem, então vamos nessa!”

Naquela noite voltei pra casa com aquilo na cabeça. “Meu Deus, até ontem não tinha nem EP, agora já tem EP, as pessoas tão curtindo e vou estrear no Sesc Pompeia. Óia a responsa…”

Eu nunca tinha feito show meu, já fiz diversas participações e toquei por um bom tempo na noite. Fazer um show é uma responsabilidade e um trabalho grande. Para um artista que está começando – que é o meu caso – então, o trabalho é ainda maior. Afinal precisaria montar uma banda, achar alguém que topasse produzir esse show comigo e montar um repertório de uma hora. Essa era a maior dificuldade, há tempo eu não compunha, não tenho um set list autoral de uma hora. Foi daí que veio a ideia de buscar em minha história canções que marcaram minha vida em algum momento, então risquei várias no meu celular e fui montando um set list, que a princípio tinha ficado bem grande! (rs)

Em julho fui passar uns dias em Buenos Aires e no avião minha cabeça quase dá pane. É dentro do avião que tenho as melhores ideias e que mais me emociono, não sei por que. Mas naquele tempo desconectado do mundo bate todo tipo de sensação e sentimento em mim e foi no avião que eu cheguei de fato ao set list final do show. Quando desembarquei em São Paulo, já fiz uma playlist no Spotify com o repertório e comecei falar com alguns amigos para me ajudar a montar uma banda.

Ja tinha convidado a Sivuca pra ser minha baterista, então fui trocando figurinhas com ela e um dia no ensaio a vi tocando e pensei: “Caralho, ia ser foda montar uma banda só de mina!”

Compartilhei com ela e com Fejuca (diretor musical do meu show), e eles piraram. Então saímos à caça do time, Fejuca, Sivuca e eu. Foi difícil achar mulheres que tivessem o sotaque do som que eu queria imprimir na banda nesse momento, então resolvemos abdicar da ideia nesse primeiro momento e misturar a banda. Chamei a Monica Agena (guitarra), Digão (baixo), Louise (teclado), Café (percussão), Ed (trombone), Ana Eliza (sax) e Gustavo S. (trompete).

O time tava completo! E que time, diga-se de passagem! Caímos para o estúdio para ensaiar e fomos nos conhecendo cada vez mais. A sinergia começou a rolar e cada vez o groove ficava mais redondo. Já nos primeiros ensaios tive certeza de que a energia que consegui ter em estúdio gravando o EP estaria também preservada na estrada com aquele time de músicos.

Já passei por processos desgastantes de trabalhar com muita gente e ajudar a montar muitas bandas, mas não acho que só a sonoridade deve ser analisada. Eu queria um time que quisesse estar comigo, que me conhecesse, que quisesse somar, que vibrasse a cada acorde e essa energia transparecesse no palco.

Os dias foram passando e surgiu o convite para Tocar na Concha Acústica em Salvador, o lindo convite para tocar no Festival Satélite 061 em Brasilia… sabia que ia estar entre os grandes logo de cara, então precisava me preparar bem.

Comecei a fazer fonoaudióloga e tudo isso a um mês da estreia em Salvador. Parecia aqueles desfiles de escola de samba. Todo dia eu acordava e pensava: “Meu Deus, não vai dar tempo de ficar tudo pronto”.

Mas deu! Graças a Deus!

E dia 4 estreamos lindamente em Salvador, eu a Banda Gente Bonita, casa cheia, público impecável, como sempre na cidade. Mal subi no palco e as pessoas já gritaram. A casa já estava cheia e foi enchendo cada vez mais. E lá estava eu, fazendo meu primeiro show da vida em uma das melhores casas de show da América Latina, só quem já foi na concha sabe a energia que tem aquele lugar… fui acolhido pelo público baiano, que interagiu da primeira à última música, foi mágico…

Agora vinha a segunda missão, a estreia em São Paulo. 

Eu pensei que o show fosse ficar meio vazio, não estava vendo uma grande procura de ingressos, até que dois dias antes, Raissa e Pamella me disseram: “Ó, tá esgotando, viu, só faltam 160!”

Não sabia se ficava feliz porque tava cheio ou mais nervoso pela responsabilidade de ter ainda mais gente me assistindo. Ainda assim claro que a felicidade prevaleceu…

Naquela mesma noite recebi de uma amiga a notícia de que tinha saído na capa do ESTADÃO. “Caraio”, eu pensei. Estreia na Concha Acústica, capa de jornal, entrevista em rádio, banda completa, ingressos esgotando, tudo isso é verdade mesmo?! rs

Chegou o grande dia. Lá estava eu, nervoso, tenso, fui tomar banho e me veio a ideia de convidar minha mãe para ler um trecho da biografia que ela escreveu sobre mim no início do show, como uma introdução mesmo. Fiz o convite dois minutos antes da subida ao palco, foi a melhor ideia de última hora que ja tive. Não tinha outra pessoa que não ela, a maior responsável por aquele momento, fazer o anúncio de que tinha chegado a hora. Eu subiria ao palco do Sesc Pompeia como artista pela primeira vez.

Comecei a chorar. Rapidamente engoli o choro, peguei a viola e subi…

Dali em diante, amigo, chorei, sorri, me diverti, todo aquele nervosismo que senti antes de subir no palco foi passando aos poucos. Veio a primeira música, “Gente Bonita”, me apresentei ao público e, claro, chorei denovo! rs

Chamei a segunda música, “Olha a pipa“, do Jorge Ben, e na sequência convidei Ogi pra subir ao palco. Juntos fizemos “7 cordas” e na sequência “Vacilão”. Essa me deixou em casa: toda a plateia cantando, eu pensei :”Pô, as pessoas realmente estão esperando as músicas do EP, que da hora isso”.

Ogi se despediu e o show seguiu. Então fiz “Obrigado, Darcy”, a inédita “Quando for falar de amor” e na sequência uma releitura classuda da “My Petition”, da diva Jill Scott, Convidei a Drik Barbosa para fazer uma poesia nessa música e foi lindo como ela foi recebida pelo público.

Na sequência fiz a nova versão da música “Le charmes des premiers Jours”, uma música em francês do Féfé em que fiz uma releitura e convidei o Emicida pra escrever uma poesia para mim. A cada música mesmo que nova o público me acolhia mais, eles estavam de fato na mesma sintonia que eu.

Foi nessa sintonia que recebemos com o mesmo carinho Assucena e Raquel Virginia. Juntos fizemos “Uma Canção para você” de autoria de Assucena, e o público foi ao delírio. Foi um dos pontos mais altos da noite, momento mágico.

Em seguida subiu ao palco meu mano Coruja, juntos fizemos a inédita minha e dele “Suave Brite”, um reggae de vila que eu adoro! A plateia estava cada vez mais quente, então veio “Leve Flores”, outra canção do EP, e todo mundo cantou junto, mais um momento forte do show.

Dando prosseguimento ao espetáculo convidei os meninos do projeto Alana para juntos fazermos “Charle ilê”, de Carlinhos Brown e minha inédita “Nego Lutou”, um samba reggae que produzi recentemente com Serginho Rocha em Salvador. “Só uma mulher”, com Mattoli, do Clube do Balanço, e a mais querida por todos, “Pitada de amor”, deram prosseguimento ao clima festivo do show. Essa última foi cantada literalmente por toda a plateia, fiquei de cara! kkk a minha história de vida de timidez estava mesmo conquistando a plateia, rolou uma emoção nesse momento, confesso…rs

 O show chegava aos seus finalmente quando convidei outro grande responsável por tudo aquilo: Emicida subiu ao palco fazendo comigo  “Passarinhos” e “Só mais uma noite“, que ganhou um novo arranjo, diga-se de passagem ZIIIKAAA! rs

Encerrei o show com uma música chamada “Africa Nossa” da Cantora caboverdiana Cesária Evora. Ensinei o coro pra plateia e todo mundo cantou lindamente comigo, me fazendo ser transportado diretamente para aquela terra da saudade chamada Cabo Verde. Essa música é linda, forte e gostosa de cantar, nós fizemos um arranjo levando ela para um kizomba, um ritmo angolano, e o swing ficou muito contagiante, canção perfeita para terminar o show, sobretudo homenageando a grande Cesária, uma das maiores vozes da Africa.

O show acabou, o público pediu bis e, não satisfeito, começou a gritar meu nome:

Fióti, Fióti, Fióti…

Aí eu falei, ah não, mano, ai é sacanagem, até coro com meu nome eu tive direito, e tudo isso no meu segundo show de carreira…

Subi ao palco e fiz de novo “Gente Bonita” e “Pitada de Amor” com a presença de todos os convidados. O show terminou e fui cumprimentar o público, tomar um vinho e tirar fotos, e as pessoas estavam tão felizes e emocionadas quanto eu, é como se aquele momento tivesse sido especial para todos nós.

E eu acho que foi mesmo, até agora não consegui decifrar a sensação gostosa de subir no palco e ver centenas de pessoas trocando energia comigo na mesma vibe. Só sei que foi especial, não sei se sou merecedor de tudo isso, mas saí dali com a alma lavada e com a bateria recarregada, pronto para o próximo e mais certo ainda de que as coisas têm realmente o momento certo de acontecer.

Mal posso esperar para reencontrar meu público em São Paulo e viver tudo isso mais uma vez. Foi mágico, lindo e marcante para mim. Coisas que só a música é capaz de promover!

O Sentimento que resta é o de gratidão!

Obrigado a todos que estiveram comigo naquela noite, o segundo show da minha vida também vai ser lembrado para sempre e está guardado na memória e no fundo do peito. Obrigado, São Paulo, obrigado, Gente Bonita!