Nos primeiros meses de 2020, a Laboratório Fantasma e a multinacional AB InBev iniciaram a construção de uma trajetória conjunta da marca Budweiser com a artista Drik Barbosa, o que tomou a forma de três projetos da cervejaria com a participação de Drik. Em janeiro, foi dada a largada e a Bud convidou a MC para ir, pela primeira vez, aos Estados Unidos para acompanhar de perto a 54ª edição do Super Bowl, que aconteceu no Hard Rock Stadium, em Miami. Além disso, no Brasil, a cantora foi uma das protagonistas de duas iniciativas de escala nacional da patrocinadora oficial do festival de música Lollapalooza Brasil.

“Ir ao Super Bowl era algo que eu nunca me imaginava fazendo. Assistir de perto a um evento com essa grandeza, que todo o mundo também para pra assistir. Eu me senti muito mais próxima de pessoas que são referências minhas. Respirei o mesmo ar que a Beyoncé, que a Shakira e que a JLo. (Risos)” disse Drik Barbosa, durante entrevista concedida à nós.

Drik Barbosa no Hard Rock Stadium, em Miami Gardens.

Ser uma das personalidades brasileiras selecionadas para participar do desdobramento da campanha mundial “BUDX” pensado para a grande final do futebol americano, na Flórida, foi somente o início dessa parceria. Drik Barbosa voltou ao Brasil para estrelar mais dois projetos da cervejaria: os filmes #VozDaMulher e #OpenForKings, este último exibido para todo o Brasil durante um dos intervalos do Jornal Nacional, transmitido pela Rede Globo. 

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Conversamos com a dona dos hit Quem tem joga sobre como foram as experiências de conhecer alguns de seus ídolos durante o Super Bowl e também de protagonizar filmes publicitários com Stefanie, Djonga, Alt Niss e Emicida – nomes bastante renomados no cenário artístico do rap brasileiro. Além disso, Drik também nos contou sobre os impactos provocados por esses momentos na cena do rap e em suas trajetórias pessoal e profissional. Confira a entrevista abaixo.

Os “Kings of Culture” da campanha “BUDX” reunidos no Bud Hotel, em Miami. Da esquerda para a direita: Boss in Drama, Eduardo Bravin, Karol Conká, Drik Barbosa, MC Lan, Rashid, Flora SMZ, Magá Moura, Konrad Dantas e Alana Leguth.

Como foi a experiência do Super Bowl para você?

Drik: Foi a primeira vez que eu fui pros Estados Unidos. Foi muito mágico fazer parte dessa experiência com a Budweiser e com as pessoas que estavam presentes. Muitas delas eu já conhecia: o Bravin, a Magá Moura, o Roncca, o Fernando (Schlaepfer), a Camila, a Karol Conká, o Rashid… Então eu estava me sentindo em casa com essas pessoas. Foi uma oportunidade muito linda de conhecer um pouco mais sobre elas. Foi uma experiência muito gostosa de troca e que ficou marcada como algo inesquecível pra mim, pessoal e profissionalmente. Também realizei vários sonhos, como estar perto dos Black Eyed Peas e também assistir a um show deles. Ir ao Super Bowl era algo que nunca me imaginava fazendo. Assistir de perto a um evento com essa grandeza, que todo o mundo também para pra assistir. Eu me senti muito mais próxima de pessoas que são referências minhas. Respirei o mesmo ar que a Beyoncé, que a Shakira e que a JLo. (Risos) Foi uma experiência incrível e inesquecível. Agradeço demais à Bud por ter me feito esse convite e eu nunca vou esquecer. Foi lindo demais! 

Você, a Alt Niss e a Stefanie já se conhecem há bastante tempo. Depois de todos os percalços que existiram dentro dessa sua trajetória como artista, ser convidada por uma marca como a Budweiser para representar a luta feminina por equidade dentro da cultura hip-hop, junto à mulheres que possivelmente também viveram experiências parecidas com a sua,  indica que as marcas têm tentado levantar pautas relevantes para ajudar a diminuir os preconceitos dentro desse gênero musical?

Drik: Infelizmente, não vejo tantas marcas se preocupando com essa pauta. Colocando isso como algo relevante nas suas campanhas. Foi muito legal ver a Bud fazendo isso. Não só agora, nessa campanha em que eu participei. Mas em outras coisas que eu já vi eles realizando, até com a Tássia Reis, por exemplo, que é uma super amiga. Foi muito massa tudo o que eles realizaram juntos pra carreira dela. Acredito que isso tenha aberto várias portas. Não só pra ela. Consequentemente, quando portas são abertas para qualquer uma de nós, a gente mantém essa porta aberta para que outras também possam passar por ela e assim a gente vai caminhando e abrindo caminhos. É muito legal ter o incentivo de uma marca global, que prestou atenção no que a gente estava dizendo e nos ajudou a chegar em mais pessoas. Eu achei maravilhoso fazer parte dessa campanha com mulheres que eu admiro demais, como a Stefanie e a Alt Niss. Foi algo muito bom pra minha carreira ter essa parceria com a Bud. A partir do momento em que uma marca consegue olhar mais para essa questão, isso com certeza estimula que outras marcas também comecem a prestar atenção no que precisa ser feito para que a gente alcance a equidade em todas as áreas, inclusive dentro do hip-hop. Eu espero, realmente, que isso aconteça: que outras marcas também se sintam estimuladas. Porque aí a gente consegue que mais mulheres tenham oportunidade e visibilidade, conseguindo assim mostrar todas as suas potencialidades. E assim a gente vai conseguir evoluir e quebrar essas barreiras. 

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Essa foi sua primeira campanha exibida em TV aberta, à nível nacional. Qual foi a sensação de atingir esse nível de representação com seu trabalho, em um filme ao lado de mulheres que te inspira, como a Stefanie e a Alt Niss, mas também ao lado de Emicida e Djonga, artistas que vêm do rap e são consagrados dentro do mercado da música? 

Drik: Eu me sinto muito feliz. Aparecer na TV é uma grande realização, né. Em um canal aberto para o Brasil inteiro, quiçá pro mundo! Fazendo rap. Mostrando a minha identidade junto com pessoas que admiro muito. Que me inspiram muito. Sobre o Emicida eu nem preciso falar, porque já é uma inspiração enorme há muitos anos. O Djonga eu conheci há menos tempo, mas admiro a postura dele. Não só pelo quanto ele tem colaborado com a cena, com o talento dele e com as portas que ele vem abrindo, mas também por ele ser uma pessoa muito boa, sabe? Por ele realmente colocar o coração no som dele. E, sobre as meninas, meu Deus do céu! Imagina eu aparecer na TV com as minhas irmãs? Eu as considero como irmãs e também amo o trabalho delas. Foi uma grande felicidade, que eu espero que aconteça mais daqui pra frente. Foi uma grande vitória, com certeza. Não só pra mim, mas pro rap em geral. A gente tá cada vez mais ocupando o espaço que também é nosso. Estando em lugares em que a gente também tem que estar.

Falando sobre a luta contra o machismo, para você, em que estágio desse processo o rap se encontra hoje? Quanto já evoluímos? O que você  acredita ser necessário fazer para avançarmos nessa caminhada por mais representatividade feminina no segmento?

Drik: A cena caminhou muito pra frente, ainda mais tendo em vista anos atrás. O mérito disso é, com certeza, de mulheres que vieram metendo o pé na porta mesmo, para que a gente hoje tenha um pouco mais de liberdade artística dentro do rap. Na nossa identidade visual, se vocês escutar relatos de mulheres MCs que estão aí no corre há 10 – 15 anos, você vai ver o quanto era difícil subir no palco com a roupa que você quisesse, porque não dariam a devida atenção ao que você tinha pra falar. Porque iriam achar que você estava querendo chamar atenção dos caras. Desde coisas assim até falta de oportunidades de show. De festivais não olharem pros nossos trabalhos. De contratantes não olharem pros nossos trampos. É só assim que as coisas conseguem acontecer: a gente precisa de show, porque precisa de dinheiro, para conseguir produzir mais músicas. E aí a gente enfrenta muitas barreiras, até hoje. Por falta de visibilidade. Ainda há essa separação de “rap feminino” e “rap masculino”. Se você for ver questões de números, também é bizarramente diferente. Porque o mercado, não só a cena do rap nacional, a indústria musical ainda não olha para nós como olha artistas masculinos. Eu acredito que a solução que, com certeza, ajudaria muito é as pessoas começarem a desconstruir suas visões machistas, pra que a gente consiga mudar não só o movimento, mas a sociedade em si. A gente lida com pessoas no rap. São pessoas que vão ouvir a sua música, pessoas que vão espalhar seu trampo, pessoas que vão te dar oportunidades. Enquanto essas pessoas tiverem pensamentos e ações machistas, a gente não vai conseguir mudar tudo isso. É uma desconstrução extremamente necessária. E existem, com certeza, muitos caras que já têm esse pensamento desconstruído. Inclusive pessoas com quem eu trabalhei na campanha, como o próprio Emicida e também o Djonga, além de vários outros MCs, produtores, contratantes etc. A gente tem conseguido fazer o nosso corre porque essas pessoas já desconstruíram suas mentes, sabe? Só que a gente não pode ficar esperando isso acontecer. Porque a gente quer trabalhar, sobreviver, queremos fazer arte, queremos produzir as coisas e vamos continuar fazendo isso. Mas também vamos seguir  cobrando a devida atenção da sociedade para pautas urgentes que significam a nossa existência e sobrevivência. Não é questão de sentir vontade de que as coisas mudem, é uma necessidade. Enquanto ainda morrerem mulheres, sobretudo as negras, nesse país, apenas por serem mulheres, nossa voz e nossa mensagem ainda vai ter sentido de urgência e o rap é uma arma forte nessa luta.

Texto por: Ygor Damasceno.