Por Vinicius Felix
Apesar do nome, o festival João Rock não se atrela só a um gênero musical. É tradição que artistas e bandas de reggae, rap e pop estejam entre os principais convidados. O Criolo, por exemplo, já fechou duas edições da festa. No último fim de semana, foi a vez do Emicida encerrar a 16ª edição do festival, logo na primeira vez dele no João Rock!
A responsabilidade e a honra de fechar um festival tão grande e tradicional representando o rap nacional deu o clima para a noite. Afinal, o público estimado era de 50 mil pessoas, sem dúvida um dos momentos mais especiais da turnê do álbum “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa”.
Em apresentações desse porte é normal que cada um guarde uma cena especial. Entre várias possibilidades, que tal a levada pesada de “Nóiz”, quando o Emicida aproveitou pra lembrar “que rock’n’roll também é música de preto”? Ou o coral da plateia em “Casa”? Ou aquele trecho de tirar o fôlego em “Rinha”, que nem tava escrita no setlist, mas rolou e foi dedicada à toda a turma que faz freestyle no Brasil?
“Vô na bolinha de meia, com meus parceiro
Uma pá de nego ligeiro, rasgando mais que açougueiro
Treinando free o dia inteiro, lutando pra ser o primeiro
E pirando quando os MC manda o flow mais cabreiro”
A gente pode guardar também as participações especiais. Seguindo uma tradição do festival, especialista em promover grandes encontros, o show foi lotado delas. “Mandume” chegou com o time quase completo: Drik Barbosa, Rico Dalasam, Muzzik, Raphão Alaafin, além do Coruja BC1, que tava ali no palco o tempo todo fazendo as dobras do Emicida.
Pitty, que tinha acabado de fazer no festival seu primeiro show em quase um ano e meio, colou para cantar “Hoje Cedo”, em uma performance que levantou o pessoal. Reação semelhante rolou quando a Vanessa da Mata apareceu para uma participação em “Passarinhos” e uma solo dela, “Ai, Ai, Ai” – nessa o Emicida foi ajudar a Sivuca e o Carlos Café na percussão.
Mas o grande lance do show do João Rock foram a alegria e a emoção do Emicida e da banda com o momento. Uma fã notou e escreveu no Facebook. “Saí de lá feliz de ter presenciado um show FODA e de ter visto o quanto ele estava feliz”. Essa felicidade ficou nítida em várias momentos.
Alegria quando a plateia entrou na onda da coreografia exata para “Zica, Vai lá…”, quando pulou muito na versão trap de “I Love Quebrada” e quando balançou com duas músicas irmãs, “Madagascar” e “Mufete”. “É mágico poder tá aqui, certo? Quantas vezes na minha casa eu não via as notícias de como o João Rock tinha sido foda e eu pensava: ‘Será que um dia a gente vai se apresentar num palco desse tamanho?’”. É bom lembrar que na plateia tinha uma grande turma que já tinha encarado mais de 6 horas de shows e um frio incomum em Ribeirão Preto _a temperatura chegou a 7ºC.
Tudo isso sem abrir mão de conversas sérias, afinal “às vezes você precisa ser didático” e o nosso momento exige isso, não é? A intro com “5 moleque tipo nóiz” pediu a liberdade de Rafael Braga, “Bang!” veio contra a fala racista (“Neguinho é o caralho”) e “Boa Esperança” falou por si própria. O recado “Fora Temer” veio em um improviso do Coruja no meio de “I Love Quebrada”.
Outro papo sério veio na hora de homenagear Chorão, certamente um dos artistas que mais amavam o João Rock, fora a paixão que tinha pelo rap nacional. “Não percam a oportunidade de dizer um bom dia, um obrigado, um tudo bem com você, um eu te amo. Sabe por quê? A vida é efêmera”. Emicida lembrou também de uma das últimas conversa que teve com Chorão sobre um rap juntos que acabou nunca saindo. A emoção do público apareceu em abraços e beijos. “Agradece seus amigos por esse rolê, pelas risadas, agradece pela presença, pelas loucuras, pelas lágrimas também. Obrigado pela noite. Isso é um sonho realizado”. Verdade, não é toda noite que um artista independente tem a chance de tocar seu som pra tanta gente, isso é viver o sonho mesmo. Quando é o próximo festival mesmo?
P.S. Quem tava lá, não conhece a música que rolou após o fim do show e tá querendo muito ouvir de novo, é “Ponta de Lança (Verso Livre)” do Rincon Sapiência, um dos melhores sons do ano! Escuta aqui embaixo!
Parabéns a todos que fazem parte disso vcs vão muito além