Ele pediu desculpas pela demora e agradeceu a espera de uma legião de pessoas que ansiava por novas linhas do mestre. Afinal, são quase cinco anos desde “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa”, lançado em 2015. O experimento social intitulado “AmarElo”, inspiração vinda de um poema de Paulo Leminski, chegou às ruas no dia 30 de outubro e vem como uma brisa leve que tem em si a força para se tornar um furacão. Emicida rima como quem escreve cartas de amor e traz em 11 faixas o olhar de quem acompanha a rotina de alguém enfrentando as mazelas do dia a dia e tendo em mente que nada é impossível. Lançamento pela Laboratório Fantasma e distribuído pela Sony Music. Quem assina a produção é seu companheiro de longa data, Nave.
Antes de iniciar, é importante dar um salve: disponível exclusivamente pela plataforma digital Deezer, Emicida nos recebe com a intro “Silêncio”. A faixa é o abre alas do projeto e você pode entender tudo o que há por trás dela nessa thread feita pelo próprio Emicida. Entendeu tudo? Então embarca nessa com nóiz e sente o drama!
O primeiro impacto vem em forma de imagem. A capa de seu novo trabalho de estúdio conta com uma imagem feita por Claudia Andujar, fotógrafa e ativista, feita em 1974 na aldeia Yanomami Catrimani em Roraima, região norte do Brasil. Dando início aos trabalhos, sua primeira faixa, “Principia”, é como o despertar para um novo dia. “Cale o cansaço, refaça o laço, ofereça um abraço quente. A música é só uma semente. Um sorriso ainda é a única língua que todos entendem. Tipo um girassol, meu olho busca o sol.” São rimas que te abrem o peito como quem abre a janela pra contemplar o dia ao acordar. Com os toques do agogô, a sonoridade remete a um ponto do Candomblé, daqueles que se ouve para abrir os caminhos. Em um coro repleto de espiritualidade, são as vozes de Indy Naíse, Marissol Mwaba e Nina Oliveira – além das Pastoras da Comunidade do Rosário, mulheres sexagenárias da Igreja do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França (construída por descendentes africanos mantidos como escravos no século XVIII). A cantora Fabiana Cozza também dá o ar da graça no refrão e o pastor Henrique Vieira finaliza com belas palavras em forma de poema, dando boas vindas às próximas faixas.
A sequência de músicas traz o peso da visão de mundo do Emicida combinada com participações ilustres. Na serenidade de “A Ordem Natural das Coisas” com MC Tha; um ode às pequenas vitórias do dia a dia em “Pequenas Alegrias da Vida Adulta” com o toque do pianista Marcos Valle e finalizada por uma esquete do humorista Thiago Ventura, que prepara o terreno para “Quem Tem um Amigo (Tem Tudo)”, com nada mais, nada menos que Zeca Pagodinho, a dupla Os Prettos e o grupo japonês Tokyo Ska Paradise Orchestra. Depois de voar solo com as canetadas de “Paisagem” e “Cananéia, Iguape, Ilha Comprida”, ele volta muito bem acompanhado por mulheres incríveis nas faixas “9nha” com Drik Barbosa e “Ismália”, com Larissa Luz e Fernanda Montenegro, lendo o poema de mesmo nome escrito pelo mineiro Alphonsus de Guimaraens (pseudônimo de Afonso Henrique da Costa Guimarães), inspiração para o nome da faixa. A trinca que finaliza esta experiência única já está na boca do povo: a pedrada de “Eminência Parda”, com Dona Onete, Jé Santiago e Papillon; o grito de socorro que leva o nome do disco, “AmarElo” com Pabllo Vittar e Majur e Libre, com o duo Ibeyi.
“AmarElo” está disponível em todas as plataformas digitais.
Foram cinco anos de espera que nunca valeram tanto à pena. Gratidão, Emicida! 🌿
Texto por: Carla Silva
O que eu gosto do Emicida é essa capacidade gentil e única de combinar as cabeçadas que precisamos levar com a leveza que precisamos pra que a cabeça e o coração continuem funcionando bem. Tem poesia que acalma e tem grito que resiste. Tem vontade de dar colo, pegar no colo, levantar do sofá, mudar o mundo, mudar de casa, mudar a visão. Tem o afeto de um pai de 33 anos de vida e um negro que carrega a história de 300 anos de escravidão com a galera toda que sente na pele a barbárie no Brasil. Tem a história sendo reescrita, recontada, revista e tem a história sendo construída de hoje pra frente. Esse álbum consegue colocar nos olhos brilho, lágrimas, raiva, esperança e reflexão. Emicida, que vc nunca pare porque a gente aqui também não pode parar. Leandro, seu coração é amarelo ouro, suas rimas são salva-vidas, seus parça são guardiões de tudo aquilo que é importante. Pra tudo o que tá acontecendo nesse país, seus trabalhos são respiros, são um pouco de ar, uns suspiros de alívio e uma vontade de seguir em frente. Monumental. Obrigada a toda a galera do Laboratório Fantasma por dividir com a gente tanta arte, tanta genialidade e tanto afeto. A rua é muito nóiz.
Regina, assim como o Emicida consegue nos trazer tantos sentimentos em sua caneta, em sua música, você conseguiu traduzir muito bem quem ele é, o que ele, suas músicas e seus álbuns representam. Parabéns a você! Parabéns ao Emicida! Parabéns ao Leandro! Parabéns a toda Laboratório Fantasma! Muito FODA!
Esse álbum é um grande abraço!